E porque nos preocupamos com a integridade física dos nossos queridos leitores e para que não digam que só damos dicas de alto risco, hoje damos lugar à subtileza e à sofisticação.
Uma das artimanhas mais usadas para se ter uma presença forte e, acima de tudo, notada, é a sincronia. Entramos num café, ouvimos com atenção a música. É quando começa a voz a cantar que tiramos o casaco, que pousamos a mala, bolsa, mochila ou carteira. Acendemos o cigarro quando chega o refrão, ou melhor ainda, não sendo fumadores, passamos a mão pelo cabelo, olhamos preguiçosamente em volta, tiramos o livro para ler. Fazemos movimentos imperceptíveis ao ritmo da música. Imperceptíveis - é importante que sejam imperceptíveis, para que também o seja este expediente sincrónico. Desta forma os movimentos do corpo acompanham as subtilezas da música ambiente. Em breve, toda a gestualidade e o ocupar do espaço entram numa dança com a movimentação do café inteiro. É importante estar muito atento ao fundo sonoro do ambiente em que queremos ser protagonistas. O livro é aberto quando chega a pessoa a perguntar-nos o que vamos tomar. Pousamos o livro quando acaba uma música e a nossa voz sobressai um pouco. Vai-se embora a pessoa e reabrimos o livro exactamente quando começa outra música. Podemos agora sorrir-se, como se lêssemos um segredo imensamente divertido. O sorriso deverá ser ténue mas luminoso. Quando o refrão começa, pode pousar-se o livro e encontrar uma posição melhor para as costas. O que pedimos chega. E os olhares em nós também. Nesta altura já fizemos um mapa mental do espaço que nos rodeia e, como bons predadores, sabemos quem está sentado onde. Para dominar a arte do jogo de olhares, fiquem atentos à lição de nível intermédio que iremos publicar brevemente sobre essa matéria.
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