segunda-feira, 9 de julho de 2007

o melhor sítio nem sempre é o mais óbvio

Onde, então, colar o post-it, de forma a conseguirmos ler o que nele escrevemos, antes de acordar o/a ilustre anónimo/anónima a dormir na nossa cama? Segue-se uma lista de possibilidades.

A testa do visado
Prós: É realmente prático o local, ao sermos surpreendidos pela presença de mais dois pés e restante corpo ao nosso lado, imediatamente podemos ler o nome. É um poderoso estímulo da boa disposição matinal. É sempre cómico um post-it colado na testa, principalmente para quem tem a etiqueta. Faz regressar àqueles belos tempos da escola em que nos colavam um papel nas costas a dizer, "dá-me um pontapé" ou "ri-te de mim".
Contras: É difícil ter a sorte de dormir com um parceiro que fica de cabeça para cima durante todo o sono. O mais provável é que se vire enquanto dorme ou mesmo que coce a cabeça, o que faz com que o post-it saia do sítio. Além disso, é necessário estar suficientemente sóbrio e lúcido para ter o sangue frio suficiente para escrever e colar o post-it antes de adormecermos e depois de esperarmos que o parceiro tenha adormecido.

O frigorífico
Prós: Facilita imenso a colagem em si. Nem é necessário ter-se post-it's. Basta um qualquer pedaço de papel, que fixamos com um desses giríssimos ímanes em forma de ursinho, golfinho ou girafinha ou com dizeres publicitários sobre a manteiga ou a cerveja que habitualmente compramos.
Contras: Geralmente não temos o frigorífico no quarto. Por isso, a não ser nos levantemos durante a noite para ir ao frigorífico, o mais certo é acordarmos sem lembrança de termos escrito o nome da pessoa e o termos colado ao frigorífico e irremediavelmente longe desse post-it.

O tecto
Prós: Há a vantagem óbvia desta localização. É que pode, desde que se esteja por baixo, usar a cábula para gritar o nome de quem está por cima. É, assim, um dois-em-um. Não só serve para desenrascar a memória ao acordar, como é uma preciosa ajuda caso que queira usar o nome que nos teima em esquecer para incentivar o dono do nome no seu esforço físico. Basta que se use um post-it XXL e se escreva em maiúsculas e à partida será legível o nome.
Contras: A dificuldade é colocar o post-it de forma discreta. Pode fazer-se a pessoa esperar, para nos equilibrarmos numa cadeira sobre o colchão, mas os acidentes acontecem. Além disso, ao sermos apanhados em flagrante podemos assustar quem espera de nós outro tipo de malabarismos. Muito provavelmente pensará, "mas que raio de tara!, submissão, humilhação, fetiche com os pés, role-playing, ainda vá, mas isto... que raio de prevertido me foi calhar, vou-me já embora, antes que queira usar a cadeira em alguma coisa esquisita."

A mesinha de cabeceira
Prós: Esta parece, efectivamente, ser uma hipótese equilibrada, sensata e pouco dada a acidentes. Acordamos, e quando nos esticamos para colocar a dentadura, pôr os óculos, ver as horas ou mesmo retirar um preservativo da gaveta, lá está, o nome.
Contras: Há sempre a possibilidade de estarmos, como pessoas que previnem azares futuros, a escrever o nome e nos ser perguntado, "que é isso, escreves um poema para mim?". E, claramente, o melhor é mentir. "Sim, é um poema a exaltar a tua(...)". Aqui é facultativo o substantivo, que deve ser sempre lisonjeiro e se possível escandalosamente exagerado. "Beleza" é uma solução de recurso, se não houver inspiração para algo mais piroso. Depois é sair pé ante pé, quando tivermos a certeza que está a dormir o parceiro agora ansioso por um poema ao acordar, esgueirar-se até ao computador e copiar algo de um desse blogues cheio de love. De preferência um que seja pouco conhecido e com poema originais.

Provavelmente a solução mais acertada consegue-se se nos perguntarmos não onde colocar o post-it, mas quando colocar o post-it. Uma boa possibilidade é, aproveitando a troca de números de telemóvel, escrever nome e número e sublinhar furiosamente o nome e, isto agora é importante, guardar o papel num bolso onde a seguir o possamos encontrar, mesmo se a bebida nos retira grande parte da coordenação motora. Como nem sempre acontece ficarmos com o número há soluções de recurso. Há sempre a possibilidade de sacar da caneta e começar a fazer smileys, coraçoeszinhos, emoldurar o nome com heras e passarinhos de asas abertas. Não esquecer que se é na toalha que se escreve, convém que a toalha seja de papel. A não ser que se ande com uma tesoura na carteira. Se o desespero for muito pode mesmo escrever-se na mão, no braço, num pedaço de pele a jeito. Há riscos, no entanto. Escrever o nome de alguém que se acabou de conhecer na própria pele faz pensar em tatuagens e pode assustar o candidato, parece um desejo de tornar a coisa muito derradeira, definitiva cedo demais. Quanto aos desenhos amorosos também não é garantido que derreta o coração de quem está à nossa frente. Pode muito bem passar uma imagem de que somos infantis e, digamos, totós.

Mas há ainda uma forma de nos desembaraçarmos e até fazer jogar a nosso favor o esquecimento do nome. Um aviso, para esta solução é aconselhável ter-se visto todos os filmes do Humphrey Bogart e todos os James Bond com o Roger Moore ou então uma boa dose de filmes de Sophia Loren e da Alexandra Lencastre. É a abordagem killer look. Quando notarmos sinais de que vai acordar, flectimos a perna do lado de dentro, e a deixamo-la esticada de forma descontraída, o lençol deve tapar só o essencial e "muito naturalmente" deixar as pernas de fora. O braço do lado de fora deve ser dobrado fazendo com que a mão pouse no nosso peito, é a mão que vamos usar, a outra fica estrategicamente debaixo do lençol. Quando estiver eminente o acordar, pomos os lábios como se fossemos dar um beijo, descontraimos, até se afastarem um pouco os músculos da boca e fixamos assim, a meio caminho entre o beijo e o estado relaxado, a técnica conhecida por beicinho à Michelle Pfeiffer, então franzimos as sobrancelhas e a testa à James Dean e mexemos com propriedade e meiguice no cabelo alheio, que se tudo correr bem estará tão despenteado que haverá sempre uma madeixa para afastar cinematograficamente. Esperamos por um sorriso ou pela surpresa e atiramos, com voz grave e sensual, convém que seja quase um grunhido, muito afectado e gutural, "mmm, quem é esta beleza que está aqui na minha cama". Novamente, "beleza" é sempre um recurso para quando falha a eloquência ou a grunhice. É de reparar que esta frase não obriga a que se responda com o nome. Para os canastrões mais confiantes e profissionais é possível arriscar um simples, "quem és tu?", um "já fomos apresentados?, ou mesmo, "como te chamas?, eu sou...". O olhar matador é fundamental e pode ser usado mesmo sem que se fale. Não desatar a rir ajuda sempre.

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