terça-feira, 31 de julho de 2007

técnica caduca?

que é feito do velhinho e clássico piscar de olhos?

domingo, 29 de julho de 2007

o tempo, esse grande contextualizador

vou-te oferecer um desses Kama Sutra's ilustrados
- se ouvir isto logo a seguir à primeira vez, ou, pior, durante a primeira vez, é caso para ficar preocupado.
- se ouvir o mesmo comentário depois de, digamos, 3 meses de queca, é bom sinal, principalmente se quiser continuar a relação. ninguém perde tempo a tentar apimentar uma parceria sexual em que não acredita.
- se ouvir a mesma coisa mas num casamento de anos, bem... nada de extraordinário.

na tua casa ou na minha?
- se o escutar durante os primeiros minutos de conversa, parabéns. é rápido e eficaz.
- se a mesma pergunta surgir depois de 3 meses de relação, provavelmente está-se a referir a qualquer coisa que não o sexo. talvez à escolha da casa para uma reunião de amigos, para uma sessão de estudo ou para guardar tralha que alguém não quis.
- o mesmo, mas questionado no contexto de um casamento de vários anos... bem, provavelmente já estão separados e à espera dos papéis para formalizar o divórcio.

os orgasmos não são assim tão importantes + e não acredito nos exageros descritivos de quem afirma senti-los
- logo a seguir à primeira vez é de desconfiar. mas, ainda assim, aplica-se o benefício da dúvida.
- ao fim de 3 meses de relação é caso para ir ver ao dicionário o significado da palavra simulação.
- numa relação de anos, é um bocado deprimente.

sábado, 28 de julho de 2007

ver para crer

nem com as minhas preciosas dicas és bem sucedida no engate? [por aqui entenda-se]
que desilusão, cara 100 sentidos. sou menos sabichão e experiente do que pensava. vou ter que rever o meu espólio de truques e manhas. e aprimorar a minha arte neste ofício. talvez encontre alguma habilidade que te seja útil.
mas quanto ao meu engate, ou melhor, ao engate que faço ou tento: não é por aqui que estendo a garra do meu charme. é num mundo em que as palavras não aparecem em ecrãs e se ouve bem a voz das pessoas. e se sentem cheiros. e o toque.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Prova

Como se pode comprovar por enquanto ele é o único que engata por aqui...

Ou tenta...

quarta-feira, 25 de julho de 2007

evitar o segundo encontro - um guia prático

está cansado de ser apanhado a vestir-se à pressa depois de ter sido o primeiro a acordar? já tentou levar a roupa consigo para se vestir no elevador e mesmo assim foi apanhado ao fechar a porta? simplesmente não consegue acordar primeiro e desgosta-lhe o hálito matinal de alguém que apanhou consigo uma bebedeira na véspera? nunca consegue dizer nada de proveitoso e chega a apanhar um susto de morte quando lhe perguntam, "já vais?", enquanto se tenta esgueirar da cama? não desespere. o Blogue de Engate preparou um guia especialmente para si.

prevenir é melhor que remediar, diz o cu às calças
é verdade que tem o seu encanto atirar as peças de roupa de forma aleatória pelo quarto, à medida que são despidas. mas a frustração de tentar chegar a umas cuecas penduradas no candeeiro no dia seguinte não compensa. o melhor mesmo é praticar em casa essa arte milenar que é a projecção moderada da roupa. quando estiver para se despir para tomar banho tem um boa oportunidade de ginasticar o arremesso da blusa ou o lançamento das calças. lembre-se que o objectivo último é treinar a espontaneidade e a naturalidade, o que faz todo o sentido, caro leitor. não vai chegar longe, no universo do engate, se confiar nas suas capacidades inatas como se estas fossem as melhores e mais afinadas armas que tem ao seu dispor para seduzir. a arte do engate é uma arte do artifício e que se refina com a experiência. por isso, o melhor é apostar em ser um olímpico lançador de roupa indoor. seja assíduos nos treinos e empenhado na técnica. uma das técnicas clássicas é a técnica do rasto de vestuário. comece a despir-se na sala, entre beijos e amassos. a primeira peça de roupa pode cair estrategicamente para o sofá ou para o chão. quando se estiver a encaminhar para o quarto, a segunda e a terceira peças ficam pelo caminho. já à porta do quarto é tempo de tirar a roupa interior, ou sugeri-lo. na cama pode então despir o tecido que ainda lhe cobrir a pele. aqui convém praticar. é de preferir um lançamento para o lado da porta. ou, e apenas para atletas do arremesso mais experientes, pode optar-se por fazer com que a última peça de roupa fique do lado da cama em que se vai dormir [se não coincidir com o lado da porta]. experiência é indispensável porquê? porque depois das cambalhotas e do reboliço nos lençóis nada garante que fiquemos do lado que pensámos ficar. esta técnica tem a vantagem de permitir uma evacuação muito prática, em que se vai vestindo peça por peça, na direcção da saída, pela ordem certa e seguindo o trilho definido no dia anterior. quando dominar esta técnica, é tempo de subir de nível com os manuais para arremesso avançado, que se publicarão aqui oportunamente. ou não.

a chave, senhores, a chave
quantas vezes lhe aconteceu encaminhar-se para a porta, já vestidinho e de cara lavada, ouvindo ainda o ressonar que vem do quarto e só ao tentar abrir a porta repara que está fechado do lado de dentro e não faz a mínima ideia onde procurar a chave? nunca?, ok, mas isso não significa que não lhe possa vir a acontecer. se não conseguir evitar que o anfitrião feche a porta à chave, distraindo-o com a azáfama das mãos e o multiplicar dos beijos, se mesmo um dramático e sensual empurrão para cima do sofá resultar apenas num consciencioso, "espera só um bocado, vou ali fechar a porta à chave, é melhor, sabes, os ladrões e tal", se partir para o exercício a dois dentro de portas sabendo que a porta para a rua está trancada então use o plano b. este recurso tem um nome simples. ok, dois nomes simples. atenção e memória. preste muita atenção ao local onde fica a chave. e imprima na sua memória esse local, como se fosse o X de um mapa do tesouro. no dia seguinte vai consegue escapar-se, quer dizer, sair mais cedo sem problemas.

o meu número? ah! com certeza é... não, não posso dar toques
afinal, sair de casa cobardemente, quer dizer... cobardemente mesmo, é apenas o primeiro passo. a seguir muita coisa pode acontecer. pode cruzar-se na rua com a pessoa. pode descobrir que trabalham no mesmo local, tarde demais. pode receber um telefonema. telefonema? quanto aos telefonemas, estes só são possíveis se tivermos ingenuamente dado um número verdadeiro quando nos foi solicitado. é preciso dizer mais? ah!, claro, não esquecer que todos os números de telemóvel em Portugal começam ou por 96 ou por 93 ou por 91. e que têm todos 9 números. sim, nove números... bem, talvez seja melhor apontar esta informação em qualquer lado. pode até entronizar os três indicativos com uma coroa de espinhos ou de arame farpado numa bela tatuagem no ombro. e em letras góticas um belo #9. sim, no fundo das costas é mais sexy, mas convenhamos que não é de fácil consulta.

se tudo falhar e ainda assim não conseguir fugir, quer dizer evitar airosamente o segundo encontro, congratule-se com isso. há uma pequena possibilidade de a explicação para a reincidência ter sido uma performance aceitável da sua parte. ou isso, ou o desespero. ou a vontade indómita e implacável de arranjar namorado/a ou noivo/a. ou ter-se tornado alvo de uma aposta de amigos/as tipo "foi assim tão mau?, aposto que não és capaz de ir com ele/ela para a cama outra vez". ou ainda... bem eu disse que era uma pequena possibilidade. pequena, pequenina.

terça-feira, 24 de julho de 2007

provavelmente não é da posição

se quando fica por cima, lhe acontece ouvir algo parecido com:

- "há umas manchas no tecto, deves ter uma infiltração de humidade"
- "depois acordas-me? ou... deixa estar, não me acordes, não é preciso."
- "porque é que não usas lâmpadas económicas?"
- "sim também é a minha posição favorita. para dormir"
- "chega-te só mais um bocadinho para a esquerda. ah!, e passa-me o comando"

não quer dizer não II

mais formas longas de dizer não, quando o não não é logo entendido como não:

- "ainda bem que vais para casa comigo. é que podes ajudar-me. eu sempre tive dificuldade em pôr os dedos na garganta para vomitar. se calhar, nem vai ser preciso ajudares, acho que não vou aguentar o caminho todo sem vomitar. os estofos do teu carro são fáceis de lavar?"
- "olha, porreiro, podes ajudar-me a esconder o corpo. que corpo? é melhor não fazeres muitas perguntas, a mala do meu carro tem lugar para mais um"

sexta-feira, 13 de julho de 2007

não quer dizer não

dá sempre jeito ter um bom reportório de respostas que sirvam como uma forma longa - e derradeiramente incisiva - de dizer não, quando do outro lado interpretam o nosso não como talvez ou como se-insistires-mais-um-pouco-digo-que-sim. algumas hipóteses:

- "telefona-me para a semana, acho que nessa altura já cicatrizou tudo a 100%, é que mudei de sexo o fim-de-semana passado"
- "a minha avó pode gravar? é que ela tem um site temático na internet com os meus videos caseiros"
- "vai ver se eu estou lá fora. se estiver podes levar-me para casa"
- "queres entrar na minha fantasia? é que tenho um fetiche, gosto de ver cenas de sexo com o meu ursinho peluche, de ver, apenas ver, eu vejo e vocês os dois entretêm-se, que tal?"
- "tem é de ser na minha casa, vamos combinar para quando acabarem as obras, lá para 2054"

quarta-feira, 11 de julho de 2007

perguntas a evitar

pelo menos nos primeiros 10 minutos de conversa

- "são verdadeiras?"
- "achas que fica melhor só o primeiro nome ou o teu nome completo numa tatuagem aqui no pulso?"
- "os meus pais vão adorar conhecer-te, não achas?"
- "engoles?"

sinais claros

de que a coisa não está a correr bem (ainda que não pareça)

- "não me estou a fazer de difícil, estou a fazer-me impossível"
- "se fosses a última pessoa à face da terra?", seguido de olhar aterrorizado e desmaio
- "tens mesmo piada, mesmo imensa piada, aliás, olho para ti e só me apetece rir", dito com um ar muito sério e nem a mais pálida amostra de riso
- "não é que cheires mal, eu é que devo ter um olfacto demasiado apurado"

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Olá... xpto

Uma das grandes dúvidas existenciais que atormenta a humanidade é onde colar o post-it com o nome da pessoa que vai dormir connosco e que conhecemos há, sejamos generosos, 5 horas. Post-it? Sim, post-it. Bem, é melhor começar pelo princípio. Todos gostaríamos de evitar aqueles segundos de confusão mental em que espaço e tempo parecem derreter-se num micro-ondas cósmico. Os segundos de pânico que só não nos põem de facto em pânico porque o sono nos impede de reagir em conformidade com o susto interior. Quem é esta pessoa? O que é que aconteceu? O que é que fizemos? Será que estive bem? Ai que medo, não se vê a cara, dorme com a almofada por cima, quando se virar será que vou apanhar o susto da minha vida? Todos gostaríamos de acordar de outra forma, a seguir a uma noite de copos e piropos abundantes e bem sucedidos. Infelizmente existe uma coisa chamada paradoxo da proporcionalidade inversa da alcoolemia. Quanto menos bebermos mais certeza temos de que não vamos conseguir nada, de que somos a pessoa mais desinteressante à face da terra, talvez mesmo do bar onde nos encontramos. Ora, para usar este paradoxo em nosso favor é preciso uma conjugação muito precisa de conta, peso e medida. O equilíbrio facilmente nos escapa. Não queremos beber tanto que achamos que tudo o que dizemos faz imenso sentido e passamos a querer dizer tudo o que nos vem à cabeça, principalmente as coisas mais absurdas, inconvenientes e uncool. É preciso sermos cientistas que fazem do próprio corpo o seu laboratório. É fundamental acertar na dose, no ritmo e principalmente na mistura que administramos a nós próprios. O que por vezes deita tudo a perder é quando o álcool já foi nosso amigo, já estamos rindo e fazendo rir, as mãos já pousaram nos joelhos, já se disseram coisas atrevidas, já se fizeram insinuações, já se falou ao ouvido e, talvez por estarmos deslumbrados com tanta sorte, perdemos o controle. Em vez de dizer interiormente uma prece de agradecimento ao etílico amigo que nos soltou a inspiração e armou de segurança e deixarmos de beber, a companhia que conquistámos faz-nos entrar num carrossel de shot's, de rodadas de whiskey e gin, de cocktails decorados de forma pirosa e enganadoramente doces. Este evitável descalabro geralmente precede um outro, bem pior. E a falta de memória subsequente acaba por ser uma generosa benção. Nós não queremos recordar que tivemos de interromper um beijo para ir a correr para a casa de banho, que saímos novamente a correr para a casa de banho quando nos faltava tirar uma meia e desapertar um botão. Não queremos recordar que nem à terceira vez que desatámos a correr conseguimos chegar a tempo de levantar a tampa da sanita. Não queremos recordar que adormecemos em cima de um parceiro que já estava, por sua vez, a dormir, que fomos empurrados para o lado porque começámos a pesar e a baba que nos escorria da boca fazia impressão no pescoço. Não queremos recordar o sonho que fazia a reciclagem de tudo isto e lhe acrescentava um tom épico e desesperado. Depois da baba, das corridas para a casa de banho e do sonho, acordamos. E cumprimos o ritual habitual de olhar para as peças de roupa como um índio olha um rasto ou um detective analisa uma cena de crime. Empenhamo-nos no esforço de tentar ler na disposição caótica do vestuário o percurso, a sequência de acontecimentos da noite anterior. Depois a dor de cabeça faz-nos desistir e então começamos a concentrar-nos na pessoa que está ainda a dormir, irrita-nos o ressonar, reconhecemos uma marca de dentes. A seguir é o nosso hálito, de dinossauro há muito extinto, que nos leva a pensar que não é possível estar alguém ao nosso lado, que ninguém seria capaz de nos suportar. Mas de seguida a pessoa começa a mostrar que vai acordar e é nessa altura que pensamos, porque é que eu não coloquei aqui mesmo à mão de semear um post-it com o nome, como é que me vou lembrar?

o melhor sítio nem sempre é o mais óbvio

Onde, então, colar o post-it, de forma a conseguirmos ler o que nele escrevemos, antes de acordar o/a ilustre anónimo/anónima a dormir na nossa cama? Segue-se uma lista de possibilidades.

A testa do visado
Prós: É realmente prático o local, ao sermos surpreendidos pela presença de mais dois pés e restante corpo ao nosso lado, imediatamente podemos ler o nome. É um poderoso estímulo da boa disposição matinal. É sempre cómico um post-it colado na testa, principalmente para quem tem a etiqueta. Faz regressar àqueles belos tempos da escola em que nos colavam um papel nas costas a dizer, "dá-me um pontapé" ou "ri-te de mim".
Contras: É difícil ter a sorte de dormir com um parceiro que fica de cabeça para cima durante todo o sono. O mais provável é que se vire enquanto dorme ou mesmo que coce a cabeça, o que faz com que o post-it saia do sítio. Além disso, é necessário estar suficientemente sóbrio e lúcido para ter o sangue frio suficiente para escrever e colar o post-it antes de adormecermos e depois de esperarmos que o parceiro tenha adormecido.

O frigorífico
Prós: Facilita imenso a colagem em si. Nem é necessário ter-se post-it's. Basta um qualquer pedaço de papel, que fixamos com um desses giríssimos ímanes em forma de ursinho, golfinho ou girafinha ou com dizeres publicitários sobre a manteiga ou a cerveja que habitualmente compramos.
Contras: Geralmente não temos o frigorífico no quarto. Por isso, a não ser nos levantemos durante a noite para ir ao frigorífico, o mais certo é acordarmos sem lembrança de termos escrito o nome da pessoa e o termos colado ao frigorífico e irremediavelmente longe desse post-it.

O tecto
Prós: Há a vantagem óbvia desta localização. É que pode, desde que se esteja por baixo, usar a cábula para gritar o nome de quem está por cima. É, assim, um dois-em-um. Não só serve para desenrascar a memória ao acordar, como é uma preciosa ajuda caso que queira usar o nome que nos teima em esquecer para incentivar o dono do nome no seu esforço físico. Basta que se use um post-it XXL e se escreva em maiúsculas e à partida será legível o nome.
Contras: A dificuldade é colocar o post-it de forma discreta. Pode fazer-se a pessoa esperar, para nos equilibrarmos numa cadeira sobre o colchão, mas os acidentes acontecem. Além disso, ao sermos apanhados em flagrante podemos assustar quem espera de nós outro tipo de malabarismos. Muito provavelmente pensará, "mas que raio de tara!, submissão, humilhação, fetiche com os pés, role-playing, ainda vá, mas isto... que raio de prevertido me foi calhar, vou-me já embora, antes que queira usar a cadeira em alguma coisa esquisita."

A mesinha de cabeceira
Prós: Esta parece, efectivamente, ser uma hipótese equilibrada, sensata e pouco dada a acidentes. Acordamos, e quando nos esticamos para colocar a dentadura, pôr os óculos, ver as horas ou mesmo retirar um preservativo da gaveta, lá está, o nome.
Contras: Há sempre a possibilidade de estarmos, como pessoas que previnem azares futuros, a escrever o nome e nos ser perguntado, "que é isso, escreves um poema para mim?". E, claramente, o melhor é mentir. "Sim, é um poema a exaltar a tua(...)". Aqui é facultativo o substantivo, que deve ser sempre lisonjeiro e se possível escandalosamente exagerado. "Beleza" é uma solução de recurso, se não houver inspiração para algo mais piroso. Depois é sair pé ante pé, quando tivermos a certeza que está a dormir o parceiro agora ansioso por um poema ao acordar, esgueirar-se até ao computador e copiar algo de um desse blogues cheio de love. De preferência um que seja pouco conhecido e com poema originais.

Provavelmente a solução mais acertada consegue-se se nos perguntarmos não onde colocar o post-it, mas quando colocar o post-it. Uma boa possibilidade é, aproveitando a troca de números de telemóvel, escrever nome e número e sublinhar furiosamente o nome e, isto agora é importante, guardar o papel num bolso onde a seguir o possamos encontrar, mesmo se a bebida nos retira grande parte da coordenação motora. Como nem sempre acontece ficarmos com o número há soluções de recurso. Há sempre a possibilidade de sacar da caneta e começar a fazer smileys, coraçoeszinhos, emoldurar o nome com heras e passarinhos de asas abertas. Não esquecer que se é na toalha que se escreve, convém que a toalha seja de papel. A não ser que se ande com uma tesoura na carteira. Se o desespero for muito pode mesmo escrever-se na mão, no braço, num pedaço de pele a jeito. Há riscos, no entanto. Escrever o nome de alguém que se acabou de conhecer na própria pele faz pensar em tatuagens e pode assustar o candidato, parece um desejo de tornar a coisa muito derradeira, definitiva cedo demais. Quanto aos desenhos amorosos também não é garantido que derreta o coração de quem está à nossa frente. Pode muito bem passar uma imagem de que somos infantis e, digamos, totós.

Mas há ainda uma forma de nos desembaraçarmos e até fazer jogar a nosso favor o esquecimento do nome. Um aviso, para esta solução é aconselhável ter-se visto todos os filmes do Humphrey Bogart e todos os James Bond com o Roger Moore ou então uma boa dose de filmes de Sophia Loren e da Alexandra Lencastre. É a abordagem killer look. Quando notarmos sinais de que vai acordar, flectimos a perna do lado de dentro, e a deixamo-la esticada de forma descontraída, o lençol deve tapar só o essencial e "muito naturalmente" deixar as pernas de fora. O braço do lado de fora deve ser dobrado fazendo com que a mão pouse no nosso peito, é a mão que vamos usar, a outra fica estrategicamente debaixo do lençol. Quando estiver eminente o acordar, pomos os lábios como se fossemos dar um beijo, descontraimos, até se afastarem um pouco os músculos da boca e fixamos assim, a meio caminho entre o beijo e o estado relaxado, a técnica conhecida por beicinho à Michelle Pfeiffer, então franzimos as sobrancelhas e a testa à James Dean e mexemos com propriedade e meiguice no cabelo alheio, que se tudo correr bem estará tão despenteado que haverá sempre uma madeixa para afastar cinematograficamente. Esperamos por um sorriso ou pela surpresa e atiramos, com voz grave e sensual, convém que seja quase um grunhido, muito afectado e gutural, "mmm, quem é esta beleza que está aqui na minha cama". Novamente, "beleza" é sempre um recurso para quando falha a eloquência ou a grunhice. É de reparar que esta frase não obriga a que se responda com o nome. Para os canastrões mais confiantes e profissionais é possível arriscar um simples, "quem és tu?", um "já fomos apresentados?, ou mesmo, "como te chamas?, eu sou...". O olhar matador é fundamental e pode ser usado mesmo sem que se fale. Não desatar a rir ajuda sempre.